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segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Resumo: técnica de estudo

Resumo: técnica de estudo


1 Concepção e validade

A NBR 6028, da Associação Brasileira de Normas Técnicas, define resumo como “apresentação concisa dos pontos relevantes de um texto”. Completa-se a definição afirmando ser o resumo: uma apresentação sintética e seletiva das idéias de um texto, ressaltando a progressão e a articulação delas. Nele devem aparecer as principais idéias do autor do texto.”
A finalidade do resumo é difundir as principais idéias do autor lido, de modo a influenciar e estimular o leitor à leitura do texto completo. Neste sentido, os resumos somente serão válidos quando explicitarem, de forma sintética e clara, tanto a natureza da pesquisa realizada, quanto os resultados e as conclusões mais importantes.

2 Como resumir: noções técnicas

Resumir significa fazer um comentário de alguma coisa. Um resumo deverá ser fiel às idéias do autor, apresentar uma estrutura capaz de revelar o fio condutor por ele traçado e expressar tal capacidade de síntese que se destaquem os conceitos fundamentais do texto. Também, é imprescindível ter um cunho pessoal que demonstre a assimilação individual do pesquisador que, alicerçado em seus interesses básicos, traçará os objetivos do resumo, classificando, informando ou criticando. Para melhor aproveitamento da leitura é preciso entender o texto, pois impossível resumir sem compreendê-lo. Para a identificação precisa do tema, não se deve resumir antes de ler o texto todo.
Veja-se, por partes, como fazer para encontrar a idéia principal de um parágrafo, de um capítulo ou uma secção, na obra.

Como encontrar a idéia principal no parágrafo?

Um parágrafo é uma idéia; um conjunto de frases que forma um todo constituído de uma idéia fundamental, em torno do qual giram idéias secundárias em determinado número de linhas.
Entendido o que seja um parágrafo deve-se enumerá-los no texto e, em seguida, sublinhar as idéias principais, fazendo-o com inteligência. Sublinhar com inteligência é uma arte que permite ao pesquisador colocar em destaque as idéias principais, as palavras-chave e os detalhes importantes. O ato de sublinhar favorece marcar o que é principal em cada parágrafo, permitindo realizar a revisão imediata. É importante sublinhar somente as idéias principais e os detalhes importantes. Não se deve sublinhar em demasia.
Observe-se que um parágrafo contém, como já foi referido, uma só idéia e geralmente começa com uma frase importante. Esta, em seguida, é explicada, ilustrada, acompanhada de frases que o resumem. Neste caso, a idéia principal está no início do parágrafo. Mas, atente-se que, isso não é regra. Muitas das vezes a idéia principal encontra-se no final do parágrafo. Na maioria das vezes, a idéia principal é parte de uma oração e não a oração inteira. Pode-se resumi-la em poucas palavras conforme o exemplo abaixo:
Parágrafo matriz para resumo:
Contra a possibilidade de uma ciência do comportamento há um outro argumento, a propósito do qual, ao longo dos séculos, se acumula uma literatura tão ampla quão pouco esclarecedora. Refiro-me ao argumento do livre-arbítrionão podemos formular leis relativas ao comportamento humano, porque os seres humanos são livres para escolher a maneira como irão agir. Reluto em dar atenção a essa discussão fútil, mas a omissão completa poderia ser, suponho eu, chocante; creio que o argumento é de importância especialmente para as ciências do comportamento, que deveriam, examiná-lo dos pontos de vista psicológico e sociológico para saber por que é tão persistentemente apresentado e por que merece acolhida tão firme.
Seguindo as indicações aqui estabelecidas pode-se extrair a idéia principal assim: Contra a possibilidade de uma ciência do comportamento, há o argumento do “livre-arbítrio”: não podemos formular leis de comportamento humano; os homens são livres para escolher. O argumento merece exame dos pontos de vista psicológico e sociológico.
É fundamental, para o bom entendimento do texto, adquirir o hábito de identificar a idéia principal em todos os parágrafos que se lê.

Como encontrar a idéia principal de um capítulo ou secção, na obra?

Cabe em qualquer leitura atentar para o sumário da obra, procurando informações nos títulos, subtítulos, intentando captar os passos do autor. Há de se observar a hierarquização das idéias: a mais geral para todo o trecho e as menos gerais apresentadas logo abaixo desta. O autor geralmente procura distribuir as idéias, valorizando-as.
Exemplo de hierarquização de idéias em um capítulo:
3 TEORIA DA PENA DE MORTE
3.1 Conceito de pena
3.2 Teorias da pena
3.2.1 Teorias da Retribuição (absolutas),
3.2.2 Teorias da Prevenção ou Teorias Finalistas (relativas)
3.2.3 Teorias Ecléticas (mistas)
3.3 Conceito de pena de morte

O que são detalhes importantes?

O próprio autor indica o que é importante para expressar seu pensamento. Assim, os exemplos, os argumentos, as ressalvas, as exceções, são detalhes importantes. Exemplo:
Nem todas as figuras que tipificam crimes contra a Administração Pública elencadas no Código Penal, do art. 312 ao art. 359, servem de base para a imputação do crime de lavagemPor exemplo, o disposto no art. 322, ao indicar que praticar violência, no exercício de função ou a pretexto de exercê-la é um crime de violência arbitrária e, não obstante praticado por funcionário público contra a Administração Pública, não guarda vínculo com a ocultação ou dissimulação de bens, direitos ou valores tocantes aos crimes de lavagem. (grifo nosso) (MOTA, 1996).

Finalmente, como redigir o resumo?

Segundo a NBR 6028 da ABNT, deve-se evitar o uso de parágrafos no meio do resumo. Portanto, o resumo é constituído de um só parágrafo, com no máximo 500 palavras. (Esse é o resumo que se faz nas monografias de graduação, dissertações e teses).
Para formular um resumo com a finalidade de aprendizado, alguns lembretes são necessários: sublinhar depois da primeira leitura feita, porquanto ter-se-á a noção do que trata o texto; sempre reconstruir o parágrafo a partir das palavras sublinhadas, num movimento integrador de idéias; evitar as locuções: “o autor descreve [...]” ou “neste artigo, o autor expõe que [...]”
Como se pode perceber, há algumas regras para a confecção do resumo, quais sejam: supressão, generalização, seleção e construção. Estas regrinhas, na verdade são etapas do próprio resumo.
Na supressão eliminam-se as palavras secundárias do texto (assim como: exemplos, reforços, esclarecimentos, advérbios, adjetivos, preposições, conjunções) desde que não se prejudique a compreensão.
generalização permite a substituição de elementos específicos por outros genéricos (exemplos: 1. no lugar de maçã, limão, pêra e laranja, usar a palavra frutas; 2. no lugar de regiões norte, sul, leste e oeste, do Brasil, utilizarregiões do Brasil).
seleção elimina as informações secundárias com a valorização das primárias.
construção é a fase na qual o autor cria uma nova frase, respeitando o conteúdo daquela que lhe inspirou (paráfrase).
Na formulação do resumo, o problema deve ser enunciado e as principais descobertas e conclusões devem ser mencionadas, na ordem em que aparecem no trabalho. O tratamento dado ao tema pode ser traduzido mediante uso de palavras como preliminarminuciosoexperimentalteórico. O resumo será redigido na terceira pessoa do singular (de preferência), em períodos curtos e com palavras acessíveis a qualquer leitor potencialmente interessado.

3 Tipos de resumo

Para o pesquisador, constitui-se o resumo num eficaz instrumento de trabalho. É uma síntese da obra em estudo e, sendo assim, pode apresentar-se sob três diferentes formas: resumo indicativo, resumo informativo, resumo crítico.
O resumo indicativo ou descritivo elimina quaisquer dados que não sejam aqueles essenciais. Refere-se às partes mais importantes do texto e, por ser tão simplificado, não dispensa a leitura do original.
Exemplo:
ROCCO, Maria Thereza Fraga. Crise na linguagem: a redação no vestibular. São Paulo: Mestre Jou, 1981. 184 p.
Estudo realizado sobre redações de vestibulandos da FUVEST. Examina os textos com base nas novas tendências dos estudos da linguagem, que buscam erigir uma gramática do texto, uma teoria do texto. São objetos de seu estudo a coesão, o clichê, a frase feita, o ‘não-texto’ e o discurso indefinido. Parte de conjecturas e indagações, apresenta os critérios para a análise, o candidato, o texto e farta exemplificação.
O resumo informativo reproduz com fidelidade a matriz, no que diz respeito às idéias principais e detalhes importantes.
Exemplo:
ROCCO, Maria Thereza Fraga. Crise na linguagem: a redação no vestibular. São Paulo: Mestre Jou, 1981. 184 p.
Examina 1500 redações de candidatos a vestibulares (1978), obtidas da FUVEST. O livro resultou de uma tese de doutoramento apresentada à USP em maio de 1981. Objetiva caracterizar a linguagem escrita dos vestibulandos e a existência de uma crise na linguagem escrita, particularmente desses indivíduos. Escolheu redações de vestibulandos pela oportunidade de obtenção de um corpus homogêneo. Sua hipótese inicial é a da existência de uma possível crise na linguagem e, através do estudo, estabelecer relações entre os textos e o nível de estruturação mental der seus produtores. Entre os problemas, ressaltam-se a carência de nexos, de continuidade e quantidade de informações, ausência de originalidade. Também foram objeto de análise condições externas como família, escola, cultura, fatores sociais e econômicos. Um dos critérios utilizados para a análise é a utilização do conceito de coesão. A autora preocupa-se ainda com a progressão discursiva, com o discurso tautológico, as contradições lógicas evidentes, o nonsense, os clichês, as frases feitas. Chegou à conclusão de que 34,85 dos vestibulandos demonstram incapacidade de domínio dos termos relacionais: 16,95 apresentam problemas de contradições lógicas evidentes. A redundância ocorreu em 15,25 dos textos. O uso excessivo de clichês e frases feitas aparece em 69,05 dos textos. Somente em 40 textos verificou-se a presença de linguagem criativa. Às vezes o discurso estrutura-se com frases bombásticas, pretensamente de efeito. Recomenda a autora que uma das formas de combater a crise estaria em se ensinar a refazer o discurso falho e a buscar a originalidade, valorizando o devaneio.
resumo crítico apresenta uma crítica congruente, com alicerce científico a respeito do texto em estudo. Será nesse caso, um resumo interpretativo, denominando-se resenha.
Cabe salientar que a resenha não é um simples resumo. Este é apenas um elemento da estrutura da resenha. O resumo não admite o juízo valorativo, o comentário, a crítica. A resenha exige tais elementos.
Exemplo de resenha de obra considerada no todo:
MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de direito internacional público.12. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 1999. 2 v. 1644 p.

O Direito Internacional Público (DIP) é o ordenamento jurídico da sociedade humana na sua ampla acepção e, assim, há de ser eminentemente dinâmico, acompanhando-lhe a evolução. Interessa não apenas ao especialista, mas a todos. Toda a vida política, econômica, social e cultural está se internacionalizando, e o Direito Internacional é o instrumento deste processo. O Autor revela a preocupação de produzir obra de profundidade aliada à informação científica atualizada, indispensável ao estudo de um Direito que exige um cotejo permanente com os fatos, no seu desdobramento interminável. Esta 12ª edição apresenta-se revista, ampliada e atualizada, levando em consideração as transformações ocorridas no DIP após a última edição. Inicia a obra com uma excelente resenha doutrinária. Enumera e critica o melhor do pensamento jurídico internacionalista, sem que o Autor omita a sua posição, definida com clareza. A bibliografia citada não pretende ser exaustiva. Ela representa, de um modo geral, as fontes consultadas para a elaboração do capítulo ou parágrafo. Serve também de guia aos alunos para a elaboração de seus trabalhos práticos. Referindo-se a esta obra, disse o grande internacionalista Professor Franchini Netto: “o Autor, com modéstia, afirma que o livro se destina aos estudantes. Tenho a segurança de que maior é a área de sua utilidade. É obra que consagra seu jovem e brilhante Autor. Um trabalho que merece o aplauso dos estudiosos”.

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