Pesquise neste blog

terça-feira, 26 de julho de 2011

o perigo do indefinido

Era uma vez quatro indivíduos que se chamavamtodosalguémcada um ninguém.

Existia um importante trabalho a ser feito,
e pediram a
 todos para fazê-lo.Todos tinham certeza de que alguém o faria.Cada um poderia tê-lo feito, mas na realidade ninguém o fez.
Alguém se zangou, pois era trabalho de todos!Todos pensaram que cada um poderia tê-lo feito
ninguém duvidava de que alguém o faria.

No fim das contas, 
todos fizeram críticas a cada um
porque ninguém tinha feito o que alguém poderia ter feito.

*** Moral da história***
Sem querer recriminar a todos,
seria bom que 
cada um
fizesse aquilo que deve fazer
sem alimentar esperança de que
alguém vá fazê-lo em seu lugar...
A experiência mostra que
lá onde se espera 
alguém,
geralmente não se encontra 
ninguém.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Jornalismo Opinativo

Fonte: Cronicamente viável


TIPOLOGIA TEXTUAL DE CUNHO OPINATIVO EM JORNALISMO

REFERÊNCIAS:

MELO, Jose Marques de. Jornalismo Opinativo: gêneros opinativos no jornalismo brasileiro. 3. ed. Campos de Jordão, RJ: Editora Mantiqueira, 2003.


MORAES, Jorge Viana de. Limites entre jornalismo e literatura. Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação, 2008.


CAMPO, Pedro Celso. Gênero opinativo. Observatório da Imprensa. Dispoível em: <http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/da010520026.htm>. Acesso em jan.2010.

Dicionário HOUAISS da Língua Portuguesa (versão online)Dispoível em: <http://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm. Acesso em jan.2010. 
SOBRE O TEXTO OPINATIVO 

"Muito antes de ser informativo ou interpretativo o jornalismo foi opinativo, como se via no panfletismo ideológico da Revolução Francesa. Na segunda metade do século 19 e nas primeiras décadas do século 20, o atual jornalismo empresarial dos EUA não destoava de escolas jornalísticas da época, como a francesa e a inglesa: praticava-se um jornalismo muito mais opinativo e tendencioso do que informativo. O veículo era usado apenas para manipular os fatos de acordo com os interesses do grupo ou da família proprietária do jornal – o que ainda ocorre, em pleno alvorecer do Terceiro Milênio, em muitas cidades do interior do Brasil, como verificam os próprios estudantes de Jornalismo.
[...] 
Nos anos 30, com o bom êxito do jornalismo interpretativo nascente, os dirigentes de jornais observaram que tinham em mãos um negócio de futuro. Assim, os jornais foram se profissionalizando e se organizando em empresas bem-estruturadas. 
Cada gênero passou a ter sua valorização específica. A notícia ganhou formato de indagação imparcial sobre os fatos, condensando no lead tudo o que era preciso para prender a atenção do leitor interessado na informação. A reportagem mais profunda procurava interpretar a realidade consultando especialistas nos assuntos tratados e esclarecendo as origens, as circunstâncias e as conseqüências do fato.

[...]
O opinativo ganhou a página dois para o editorial da empresa, além de artigos assinados. Colunas e demais textos assinados, em todo o jornal, revelam a característica de um texto voltado para a persuasão opinativa. As próprias agências passaram a enviar despachos devidamente assinados pelos seus melhores repórteres. Os jornais distribuíram correspondentes, que passaram a enviar matérias opinativas" (CAMPO).

Em Jornalismo Opinativo, José Marques de Melo assinala que há dois núcleos de interesse em torno dos quais o discurso jornalístico se articula:

a) A informação, cujo interesse é saber o que se passa.
b) A opinião, cujo interesse é saber o que se pensa sobre o que se passa.

Segundo o autor, os gêneros do primeiro núcleo (universo da informação) “se estruturam a partir de um referencial exterior à Instituição Jornalística: sua expressão depende diretamente da eclosão e evolução dos acontecimentos e da relação que os mediadores profissionais (jornalistas) estabelecem com seus protagonistas (personalidades ou organizações)”. (2003, p.65).

Melo define a tipologia do jornalismo informativo a partir de quatro gêneros: notanotícia,reportagem entrevista.

Quanto aos gêneros situados no segundo núcleo (universo da opinião), a estrutura da mensagem é “co-determinada por variáveis controladas pela instituição jornalística. Assumem duas feições: autoria (quem emite a opinião) e angulagem (perspectiva temporal ou espacial que dá sentido à opinião)” (2003, p.65).

No âmbito do jornalismo opinativo, o autor concebe uma tipologia de oito gêneros de texto: editorialcomentárioartigoresenhacolunacrônicacaricaturacarta.

A) OS TIPOS DE TEXTOS OPINATIVOS:

Editorial: gênero que expressa a opinião institucional e apócrifa (sem assinatura individual) do jornal. Trata-se de um gênero jornalístico que expressa a opinião oficial do jornal em relação aos fatos mais relevantes no momento. 

Comentário: gênero introduzido recentemente no jornalismo brasileiro, diante das mudanças decorridas da maior rapidez na divulgação das notícias (primeiramente pelo rádio e pela televisão). Segundo Melo, o comentário mantém uma íntima ligação com a atualidade, e é produzido a partir do que está ocorrendo. O comentário acompanha a própria notícia.

Artigo: texto opinativo (mais que informativo) publicado em seção destacada do conteúdo noticioso, para enfatizar sua natureza “não-jornalística”. Os autores recorrentes de artigos são chamados de articulistas. Apresenta-se como colaboração espontânea ou solicitação não necessariamente remunerada, o que confere liberdade completa ao seu autor. “Trata-se de liberdade em relação ao tema, ao juízo de valor emitido, e também em relação ao modo de expressão verbal” (MELO, 2003, p.125). 

Resenha: gênero textual em que se propõe a construção de relações entre as propriedades de um objeto analisado, descrevendo-o e enumerando aspectos considerados relevantes sobre ele. No jornalismo, é utilizado como forma de prestação de serviço.

Coluna: surgiu na imprensa norte-americana, em meados do século XIX, quando os jornais assumiram o caráter informativo. O nome vem da diagramação original dos textos não-noticiosos publicados regularmente em espaço predeterminado no jornal. Nos periódicos do século XIX, tudo que não era notícia era diagramado numa única coluna vertical, de alto a baixo da página, à parte do resto do conteúdo (exceto pelos folhetins, que eram publicados geralmente na parte inferior da primeira página, ocupando todas as colunas da esquerda até a direita. Mesmo depois de de assumir qualquer formato, a coluna se mantém com informações curtas, em notas, ou observações do cotidiano, em linguagem de crônica. Cumpre hoje uma função que foi peculiar ao jornalismo impresso antes do aparecimento do rádio e da televisão: o furo.

Caricatura (eu prefiro o termo charge): comentário visual dos fatos, caricatura política ou de personagens do noticiário.


Carta: texto produzido pelo leitor, inteiramente independente da linha editorial do jornal. Normalmente corresponde a comentários sobre edições anteriores do veículo, embora não se limite a esse fim.

A CRÔNICA

“Rubrica: história. 
Compilação de fatos históricos apresentados segundo a ordem de sucessão no tempo [Originalmente a crônica limitava-se a relatos verídicos e nobres; entretanto, grandes escritores a partir do sXIX passam a cultivá-la, refletindo, com argúcia e oportunismo, a vida social, a política, os costumes, o cotidiano etc. do seu tempo em livros, jornais e folhetins.]” Fonte: Dicionário HOUAISS

ORIGEM DO TERMO

A palavra crônica deriva do Latim chronica que significava, no início da Era Cristã, o relato de acontecimentos em ordem cronológica (a narração de histórias segundo a ordem em que se sucedem no tempo). Era, portanto, um breve registro de eventos. No século XIX, com o desenvolvimento da imprensa, a crônica passou a fazer parte dos jornais. Ela apareceu pela primeira vez em 1799, no Journal de Débats, publicado em Paris.
“A abordagem da crônica como um gênero específico de texto leva a destacar algumas acepções mais utilizadas por pesquisadores:
  • narração histórica ou registro de fatos comuns em ordem cronológica;
  • texto jornalístico de forma livre e pessoal e que tem, como tema, fatos ou idéias da atualidade; esses fatos podem ser de teor artístico, político, esportivo, etc.; ou simplesmente relativos à vida cotidiana;
  • no sentido histórico do termo, A Carta de Pero Vaz de Caminha é considerada crônica pelos historiadores. E, como ela, aconteceram outros relatos de cronistas que davam notícias da nova terra aos europeus;
  • é importante ressaltar que esse conceito antigo de crônica como registro de fatos históricos continuou com o advento da literatura jornalística.” (MORAES, 2008).

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Técnicas de entrevista



1. DEFINIÇÕES

            Luiz Beltrão ("A Imprensa Informativa". São Paulo: Folco Masucci) define a entrevista como "a técnica de obter matérias de interesse  jornalístico por meio de perguntas e respostas".
            A entrevista é um dos instrumentos de pesquisa do repórter. Com os dados nela obtidos ele pode montar uma reportagem de texto corrido em que as declarações são citadas entre aspas ou pode montar um texto tipo perguntas e respostas, também chamado "pingue-pongue".
            Segundo Luiz Amaral ("Técnicas de Jornal e Periódico". Rio: Tempo Brasileiro, 1987) podem-se distinguir dois tipos de entrevista: a de informação ou opinião (quando entrevistamos uma autoridade, um líder ou um especialista) e a de perfil (quando entrevistamos uma personalidade para mostrar como ela vive e não apenas para revelar opiniões ou para dar informações. Em ambos os casos há interesse do leitor e o jornalista será sempre um intermediário representando o seu leitor ( ou receptor ) diante do entrevistado. Na primeira situação, quando se trata de divulgar informações e opiniões, mesmo para produzir uma simples nota, é conveniente e necessário o jornalista repercutir o material com outras fontes envolvidas com o fato, checando a informação.
            Fábio Altman ("A Arte da Entrevista:uma antologia de 1823 aos nossos dias". São Paulo: Scritta,1995) diz que "a entrevista é a essência do jornalismo". Segundo Altman, "a entrevista transforma o cidadão comum em líder, dono da palavra, professor, uma pessoa incomum".
            Em "Técnicas de Codificação em Jornalismo-Redação, Captação e Edição do Jornal Diário". São Paulo: Ática, 1991, Mário Erbolato conta que as origens da entrevista remontam a 1836, quando James Gordon Bennet fez perguntas a Rosina Townsend, proprietária de um prostíbulo de Nova York no qual ocorrera um assassinato classificado, então, como "sensacional".
            Segundo Juarez Bahia ("Jornal, História e Técnica - História da Imprensa Brasileira". São Paulo: Ática, 1990 ) um dos requisitos mais importantes, na entrevista, é a autenticidade, isto é, que as declarações atribuídas ao entrevistado possam ser facilmente provadas.
            Carlos Tramontina ("Entrevista". Rio: Globo, 1996 ) lembra que todo entrevistador faz a mesma coisa: perguntas. Mas cada um desenvolve um estilo próprio, prepara-se de maneira diferente e usa de variadas estratégias para conseguir boas respostas. Afinal, não há boa entrevista sem bom entrevistador.
            Voltando a Fábio Altman: "Perguntas frouxas e equivocadas pressupõem respostas do mesmo teor. A inteligência das questões e a descoberta do mote correto podem transformar conversas aparentemente inócuas em grandes depoimentos". Pode-se dar como exemplo a série de encontros informais entre o ex-presidente Figueiredo e o repórter Orlando Brito em caminhadas pela praia de Copacabana ou a fita de vídeo que ele concordou em gravar num fim de festa, em 1997, onde fez revelações sobre as entranhas do poder militar. Em agosto de 1994, com o microfone aberto e a imagem fora do ar, Carlos Monforte, da TV Globo, transmitiu para o país confidências escabrosas do então ministro Rubens Ricupero. (Todos se lembram: “O que é bom a gente mostra, o que é ruim a gente esconde”).
            Para o professor José Salomão David Amorin, da UnB, "no Brasil as orientações para uma boa entrevista, em certos cursos de jornalismo, têm sido reduzidas a conselhos gagás do tipo quando for entrevistar um sujeito, telefone para saber se ele está em casa; quando ele atender ao telefone diga-lhe bom dia; não compareça a uma entrevista sem gravata..."
            Edgar Morin ("A Entrevista nas Ciências Sociais, no Rádio e na Televisão". Cadernos de Jornalismo e Comunicação, 11. Rio de Janeiro,1968) define a entrevista como "uma comunicação pessoal, realizada com objetivo de informação".
            O professor Mário Erbolato lembra que "a entrevista é  um gênero jornalístico que requer técnica e capacidade profissional. Se não for bem conduzida, redundará em fracasso".
            Segundo Alexandre Garcia, citado no livro de Tramontina, quem mais perde com o fracasso de uma entrevista é o entrevistador porque no dia seguinte ele vai fazer a mesma coisa, enquanto o entrevistado sai de cena.
            "Entrevistar não é somente fazer uma pergunta, esperar uma resposta e juntar à resposta outra pergunta. É um exercício profissional trabalhoso e ingrato. Quase sempre quanto maior é o interesse do jornal em conseguir a entrevista, menor o do entrevistado em concedê-la, e vice-versa. Na medida que cresce o interesse do jornal, crescem também os problemas do entrevistador", garante Luiz Amaral ("Jornalismo - Matéria de Primeira Página". Rio: Tempo Brasileiro, 1997), citando, em seguida,  Joseph Folliet ( "Tu seras journaliste". Lyon: Chronique Sociale de France, 1961): Esse gênero exige muita  intuição, delicadeza, perfeito conhecimento do assunto, do entrevistado, de sua vida e de sua obra, uma grande probidade - um exterior, enfim, que inspire confiança e incite à confidência.
            Na opinião do professor de jornalismo da Federal de Santa Catarina, Nilson Lage
("A Reportagem - teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística". São Paulo: Record, 2001) a palavra entrevista é ambígua. Ela tanto significa o diálogo com a fonte, como a matéria publicada.




2. ESTRATÉGIAS

            Grandes entrevistadores adquirem técnicas que transformam o jogo de perguntas e respostas numa espécie de xadrez, conseguindo arrancar declarações que o entrevistado não pretendia fazer.
            Mas não basta ter experiência. É preciso trabalhar duro antes da entrevista, pesquisando tudo sobre os temas a serem tratados e sobre o entrevistado.
            Depois de bem preparado (de preferência um ou mais dias antes) o entrevistador deve fazer um roteiro com começo, meio e fim. O objetivo não é bitolar e restringir o desempenho do entrevistador, mas ser uma base referencial para evitar "brancos" e atropelos.
            É importante que o entrevistador seja o condutor da entrevista. Mas só estará no comando se estiver bem informado e bem preparado. "É estimulante para o entrevistado, nos momentos em que a fala se interrompe, perceber que o entrevistador está compreendendo o enunciado...se o entrevistado declarou que a economia vai bem, uma observação óbvia, tal como 'o senhor é então otimista quanto aos acontecimentos do futuro próximo' vale não por seu conteúdo, mas pela demonstração de interesse e entendimento. Dependendo, no entanto, das circunstâncias, pode ser conveniente apresentar um dado de contestação, no momento adequado, para obter maior espontaneidade, expansão ou aprofundamento", ensina o professor Lage.
            O ideal é que a entrevista flua espontaneamente, cada resposta permitindo o "encaixe" da pergunta seguinte.
            Afirma Carlos Tramontina que "a estratégia mais produtiva é aquela baseada na informação: jamais um entrevistado experiente conseguirá fugir das perguntas ou esconder os fatos se diante dele estiver sentado um entrevistador cheio de informações".
            Exemplo:
            Em fevereiro de 1969, ao entrevistar o temível General  Vo Nguyen Giap, em Hanói, sobre a guerra que ele comandava, no Vietnã do Norte, contra os americanos e os sul-vietnamitas, entre o final dos anos 60 e início dos anos 70, a jornalista italiana Oriana Falacci, trabalhando para o jornal "L'Europeo", levou o líder vietnamita a revelar, com franqueza inédita, tudo o que pensava sobre seus inimigos americanos, conforme conta Fábio Altman ( obra citada ).
            Bem preparada para a entrevista, Oriana teve o cuidado de levar para o tenso ambiente do seu interlocutor duas companheiras que faziam as anotações enquanto ela enfrentava o olhar fixo do General. Nesses casos é impossível ao repórter anotar e dialogar ao mesmo tempo.
            Foi nesse clima que a jornalista italiana ousou contradizer o entrevistado classificando de derrota do Vietnã do Norte a ofensiva do Tet. Segundo ela contou depois, o General se levantou nervoso, caminhou ao redor da mesa e, com braços estendidos, exclamou: "Diga isto à Frente de Libertação".
            Oriana respondeu: "Primeiro estou perguntando ao senhor, General".
            É prática usual entre entrevistadores mais experientes usar a estratégia de começar a entrevista com atitudes ou comentários bem humorados para deixar o interlocutor à vontade, referindo-se a um jogo importante ou a algo curioso e de conhecimento comum.
            Em 27 de junho de 1989, ao entrevistar o Deputado Ulisses Guimarães, Jô Soares pediu ao garçom que lhe servisse uma dose de "poire" ( licor de pêra ), bebida preferida do Sr. Diretas e de seus colaboradores mais próximos.
            No dia seguinte, ao entrevistar outro candidato à Presidência da República, Jô chamou a atenção para o sapato Vulcabrás 752 que Paulo Maluf usava e do qual era garoto-propaganda.
            Carlos Tramontina diz que "constrangimentos entre quem pergunta e quem responde fazem parte da atividade da imprensa. Geralmente os homens públicos, que têm mais experiência no contato com a mídia, não se surpreendem". Esse tipo de entrevista é definida como "confronto" por Nilson Lage: "É a entrevista em que o repórter assume o papel de inquisidor, despejando sobre o entrevistado acusações e contra-argumentando, eventualmente com veemência, com base em algum dossiê ou conjunto acusatório. O repórter atua, então, como promotor em um julgamento informal. A tática é comum em jornalismo panfletário, quando se pretende 'ouvir o outro lado' sem lhe dar, na verdade, condições razoáveis de expor seus pontos de vista". O autor reconhece que muitas vezes esse tipo de entrevista pode transformar-se num espetáculo de constrangimento, principalmente quando transmitida ao vivo, no rádio ou na televisão.
            Para Alexandre Garcia, "a pergunta embaraçosa pode ter duas conseqüências: desmontar o entrevistado a ponto dele contar tudo o que sabe, ou irritá-lo a ponto de passar a responder tudo com monossílabos", matando a entrevista.
            Alexandre recomenda que o repórter estude o perfil psicológico do entrevistado para saber se deve conduzir a entrevista "batendo ou assoprando".
            Ele também ensina a preparar emboscadas para o entrevistado: Você faz uma pergunta sabendo de antemão qual será a resposta, porque ela é óbvia, previsível, ou porque já foi dada antes. Logo em seguida faz a pergunta-chave da entrevista.
            É uma estratégia que se aplica melhor às entrevistas longas.
            Às vezes é o caso de entrar direto no assunto, como fizeram os repórteres de Veja ao entrevistar Pedro Collor a quem a mãe, Leda, vivia pedindo que fosse ao médico examinar a cabeça. Naquela entrevista, segundo os repórteres, a primeira pergunta foi: "O Senhor se considera louco? " É um modo de balizar o terreno para que o leitor saiba com quem está falando. Se Pedro Collor admitisse problemas mentais suas declarações não teriam a mesma força. Morreu tempos depois com um tumor na cabeça...
            Em determinados casos, o experiente Alexandre Garcia usa outra estratégia que exige muito domínio da situação:
            - Eu me finjo de bobo, que não sei das coisas, para que o entrevistado sinta-se mais forte, superior a mim e seguro de si. Nessa situação ele fica mais à vontade, revela mais coisas e abre a guarda. É aí que eu entro.
            Alexandre diz que age assim porque, na sua opinião, o entrevistado tem medo do jornalista, pois uma entrevista publicada pode gerar muitas conseqüências.
            A história está cheia de exemplos sobre a força que uma entrevista tem em certas circunstâncias. A entrevista de Getúlio Vargas a Samuel Wainer na estância gaúcha do ex-presidente, publicada por "O Jornal", do Rio de Janeiro, em 03/03/1949, abriu caminho para a volta do ditador ao poder.
            A já citada entrevista de Pedro Collor provocou o impeachment de Fernando Collor e o desbaratamento do Esquema PC.
            As entrevistas em off conseguidas por Carl Bernstein e Bob Woodward, no caso Watergate, levaram à renúncia o homem mais poderoso do mundo, o Presidente dos Estados Unidos da América ( Richard Nixon ).
            Costuma-se datar o início da revolução sexual feminina, no Brasil, a partir da entrevista que Leila Diniz deu ao "Pasquim" em 21-26.11.1969, ao chegar dos EUA.
           
3. CUIDADOS

            Alguns cuidados ajudam o entrevistador a evitar problemas na hora de transformar a entrevista em notícia.
            Uma precaução é sustentar o diálogo com o entrevistado tratando-o do modo mais coloquial, seja pelo primeiro nome ou pelo cargo, conforme as circunstâncias: Soaria ridículo tratar um cantor popular ou um ator de "Senhor": , Sr. Chico Buarque, Sr. Caetano Veloso, Sr. Roberto Carlos, Sra. Carla Peres...Nos diálogos com um deputado, um ministro, um senador, usa-se o nome do cargo. Em coletivas ou locais solenes, chama-se o Presidente da República de "Sr. Presidente".
            É preciso desenvolver, também, uma técnica pessoal para observar se o entrevistado está mentindo. A este respeito, conta Luiz Amaral que depois de entrevistar milhares de homens e mulheres sobre casos sexológicos, o dr. Alfred Kinsey respondeu, certa vez, ao lhe indagarem se ele sabia até que ponto eram verdadeiras, ou não, as confissões que lhe eram feitas: 'É muito simples. Eu as encaro de frente. Inclino-me para diante. Faço as perguntas rapidamente, uma depois da outra. Não as perco de vista. Naturalmente, se vacilam posso saber que estão mentindo".
            Em casos de entrevistas ao vivo pode acontecer o acidente do "dar um branco", mesmo quando se entrevistam pessoas que o país inteiro conhece. Nunca é demais ter o nome do entrevistado bem à mostra, além do seu cargo exato.
            Conta-se que até o experiente Boris Casoy já sofreu com isto porque o editor se esqueceu (ou achou que nem precisava ) de  colocar no script do apresentador o nome do entrevistado daquela noite, no SBT. E na hora de apresentar o entrevistado, entre uma matéria e outra, Boris começou: "Estamos aqui com um grande nome da Música Popular Brasileira, um homem extremamente conhecido de vocês, que agora está atuando na política...vereador em Salvador...um compositor maravilhoso...um compositor de mão-cheia...."
            A apresentação não acabava mais porque Boris não conseguia  lembrar-se do nome de Gilberto Gil sentado à sua frente, saindo-se com esta: "Ele dispensa apresentações".
            "Mais do que em qualquer outro veículo, a entrevista televisiva devassa a intimidade do entrevistado, a partir de dados como sua roupa, seus gestos, seu olhar, a expressão facial e o ambiente. A produção, nos talk shows televisivos, é geralmente mais cuidada e o entrevistador, violando um dos preceitos básicos da entrevista jornalística, pode tornar-se a estrela do programa, com todo prejuízo que isso traz para a informação - não necessariamente para o espetáculo", observa Nilson Lage. Para o rádio, ele recomenda um tom mais coloquial
            É importante, ainda, entender porque as pessoas geralmente gostam de dar entrevistas. Não é apenas porque precisam se comunicar, mas por vaidade, na avaliação de Boris Casoy. Por isto ele acha que um elogio inicial "lubrifica" e a pessoa acaba liberando as portas de sua intimidade, permitindo que o entrevistador chegue à caixa-preta.
            Para Joelmir Beting (também citado no livro de Tramontina) as pessoas dão entrevistas porque têm informações, idéias ou propostas importantes. Outros, por interesses pessoais ou financeiros. Querem mostrar a empresa, a associação, o sindicato ou o órgão de governo ao qual pertencem.
            Mas Joelmir também não se esquece da vaidade: "O pior é que muitos não estão preparados e acabam falando o que não devem, vendo publicado o que não gostariam".
            Exemplo  foi a entrevista do ex-ministro da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro Walter Werner Brauer, que enviou carta à Revista Veja de 10.01.2.000 desmentindo referências elogiosas a Hitler contidas na entrevista concedida à repórter Sandra Brasil na edição anterior.
            Joelmir conta, com orgulho, que não é amigo de nenhum ministro ou qualquer outra autoridade do governo. Faz questão de não dever favores porque quer se manter livre e independente em seu trabalho.
           
4. GRAVAR OU ANOTAR

            Cada repórter desenvolve um método pessoal de documentar a entrevista. Alguns preferem confiar na memória, o que é perigoso quando a declaração envolve números ou nomes de difícil entendimento. Outros preferem anotar, porém em alguns casos é difícil sustentar um diálogo e anotar ao mesmo tempo, como já foi visto na técnica usada por Oriana Fallaci ao entrevistar o General Giap. O mais garantido é gravar. Mas até isto pode dar problemas porque o gravador pode falhar e surpreender o repórter na fatídica hora do fechamento do jornal. O recomendável é, além de gravar, reconstituir a entrevista com base em palavras-chaves que o repórter anota, indicando os temas principais na sequência em que ocorreram. Isso geralmente basta para, passado um período curto de tempo, reproduzir com bastante fidelidade, discursos não muito extensos ou complicados (Lage 2001). Também há  entrevistados que se intimidam com o gravador ligado, temendo falar alguma bobagem e não poder voltar atrás ou com receio de que a gravação se torne um documento de uso futuro.
            Cada caso é um caso.
            Boris Casoy, por exemplo, no depoimento a Tramontina (obra citada ) conta que, quando trabalhava em jornal impresso, preferia gravar a entrevista com dois gravadores por via das dúvidas.
            Também há diferentes modos de veicular a entrevista. Ela pode servir apenas como banco de dados para reforçar uma reportagem; as citações podem ser colocadas entre aspas ao longo do texto corrido ou também se pode usar o já referido formato de perguntas e respostas, tal como foi gravada a entrevista.
            Nos casos de denúncias, este último é o melhor sistema porque não deixa margem a dúvidas sobre a interpretação do repórter. Foi o que aconteceu com o "grampo do BNDES"  em 1999. A "Folha de S. Paulo" soltou o conteúdo das fitas aos poucos, reproduzindo na íntegra os diálogos que comprometeram ministros e autoridades do Governo FHC com favorecimentos na privatização da telefonia no país.
            Boris Casoy ensina que o entrevistador não deve ter vergonha de perguntar tudo o que precisa saber, senão fará um texto falho, incompleto. "O bom profissional é aquele que consegue transmitir para o leitor, num texto sintético e conciso, todos os conceitos, com precisão",diz.
           
5. DIREITOS DO ENTREVISTADO

            Além das técnicas de entrevista, o jornalista também deve levar em conta os direitos do entrevistado. Segundo Caio Túlio Costa (“O Relógio de Pascal – A Experiência do Primeiro Ombudsman da Imprensa Brasileira”.São Paulo: Siciliano, 1991), nos EUA as vítimas de entrevistas deturpadas ou fraudadas podem recorrer ao Centro Nacional das Vitimas, com sede em Forth Worth, no Texas, que defende os seguintes direitos dos entrevistados:
            . Você tem o direito de dizer não a um pedido de entrevista.
            . Você tem o direito de escolher um porta-voz ou um advogado da sua preferência.
            . Você tem o direito de escolher a hora e o local para entrevistas aos meios de comunicação.
            . Você tem o direito de requisitar um repórter de sua escolha.
            . Você tem o direito de recusar entrevista a um repórter específico, mesmo que você tenha prometido entrevistas a outros repórteres.
            . Você tem o direito de dizer não a uma entrevista mesmo que você tenha dito anteriormente que daria entrevistas.
            . Você tem o direito de excluir crianças de entrevistas
            . Você tem o direito de não responder questões que julgue inconfortáveis ou inapropriadas.
            . Você tem o direito de saber com antecedência quais direções a história vai tomar.
            . Você tem o direito de pedir para rever suas declarações antes da publicação.
            . Você tem o direito de recusar coletivas de imprensa e falar com cada repórter por vez.
            . Você tem o direito de pedir retratação quando informações imprecisas forem reportadas.
            . Você tem o direito de pedir que fotografias ofensivas sejam omitidas na publicação ou que imagens idem não sejam levadas ao ar.
            . Você tem o direito de dar entrevistas na televisão mostrando apenas a silhueta ou solicitar que sua foto não seja publicada.
            . Você tem o direito de recusar-se a responder perguntas de repórteres durante julgamento.
            . Você tem o direito de processar um jornalista.
            . Você tem o direito de sofrer na privacidade.
            . Você tem o direito a todo momento de ser tratado com dignidade e respeito pelos meios de comunicação”.
            Caio Túlio comenta  que “tudo isto tem muito a ver com o que os americanos chamam de fair play, o jogo limpo, a transparência do jornalista para com seu entrevistado e seus leitores”.

           


6. ORGANIZAÇÃO

            Além de fazer a entrevista e de publicá-la, muitas vezes é necessário planejar e organizar o encontro entre a fonte e a imprensa. É o caso do jornalista que exerce funções de Assessor de Imprensa nas empresas, nos órgãos públicos etc.
             As entrevistas podem ser organizadas de vários modos. Elas podem se dar nos gabinetes ou nas redações; podem ser ao vivo ou por telefone, fax, Internet etc. Podem ser pessoais ou de grupo (coletivas ); exclusivas ou não; convocadas ou espontâneas; anônimas ( como nas pesquisas ) ou não; em off ( como no caso Watergate ) ou em on; simples ( com poucos repórteres ) ou americanas ( com maior organização dos entrevistadores); de rotina ( ouvindo testemunhas de um acidente de trânsito por exemplo ) ou caracterizadas ( quando alguém informa ou opina sobre assuntos políticos, econômicos, esportivos etc ); biográficas ( com perfis de personalidades ou de pessoas que se destacam no meio do povo, na cultura, nas artes etc); informativas; opinativas etc.
            Na entrevista coletiva simples, com  poucos repórteres à mesa, o entrevistado, em geral, faz um breve resumo dos fatos. As perguntas são aleatórias, de modo espontâneo. O esquema abaixo dá uma idéia (segundo KOPPLIN, Elisa e FERRARETO, Luiz Artur. "Assessoria de Imprensa Teoria e Prática". Porto Alegre: Sagra-DC Luzzatto, 1993) da organização desse tipo de entrevista:

                                                RÁDIO                        JORNAIS        CINEGRAFISTAS
            ENTREVISTADO       e                                  e                       e
                                                TELEVISÃO               REVISTAS      FOTÓGRAFOS

            Conforme os mesmos autores, a Coletiva Americana é mais elaborada. O entrevistado ou o porta-voz fica mais distante dos repórteres, em um auditório. O número de perguntas e a duração máxima de cada uma é distribuída em função do número de veículos credenciados previamente e conforme o tempo de que dispõe o entrevistado para o encontro com a imprensa. Ao formular a pergunta, o profissional deve se identificar, bem como ao veículo que representa, fazendo perguntas claras e objetivas, estando preparado para repetir se for solicitado. Neste caso a ilustração ficaria assim:


            ACOMODAÇÕES                               ACOMODAÇÕES
                                                   Microfone
            DO ENTREVISTADO                         DOS JORNALISTAS

            Geralmente a Assessoria de Imprensa procura facilitar o trabalho dos jornalistas fornecendo material de apoio e infra-estrutura ( release, press-kit etc)
            Às vezes exige-se que as perguntas sejam apresentadas à mesa por escrito, podendo haver mais de um entrevistado. Assim todos podem participar e há a possibilidade de se apresentar mais esclarecimentos ao jornalista após a coletiva, além de ser possível responder questões que não foram respondidas no momento por falta de tempo.
            Tato Taborda ("A Entrevista Coletiva". Cadernos de Jornalismo e Comunicação, 30. Rio de Janeiro, maio/junho: 1971) afirma que "toda entrevista coletiva tende a se transformar num jogo de inteligência. De um lado, o entrevistado disposto  a declarar apenas o que lhe interessa, do outro o entrevistador que, na pressa de ser ouvido,  corta o impacto da indagação do colega". Por isto, quanto maior a organização da entrevista, melhor para todos. Porém esse tipo de entrevista organizada torna-se quase impossível em situações de emergência, quando o entrevistado precisa responder questões urgentes sobre emergências nacionais ou internacionais, catástrofes, epidemias, tragédias etc.Em tais situações o jornalista deve estar preparado para enfrentar um clima tenso e conseguir informações em situações quase caóticas, em meio ao tumulto das circunstâncias. A coletiva inicial do Presidente Johnson foi dada em pleno vôo do "Air Force One" enquanto o corpo de Kennedy ainda estava no hospital, em Dallas.
            Nas entrevistas com pessoas especializadas, o repórter deve redobrar os cuidados de anotação para não cometer gafes imperdoáveis ao redigir a matéria. É sempre conveniente deixar o próprio telefone ou o e-mail com o entrevistado (nas entrevistas individuais, ou com o assessor, nas coletivas ) e anotar o dele para qualquer troca de informações durante o fechamento do jornal.
            Costuma-se comparar uma redação de jornal - na hora do fechamento da edição - ao convés de um navio de guerra em plena ação. Umberto Eco usa a imagem de uma “caixa preta” para descrever o “caos organizado” de uma redação de jornal. Nessas circunstâncias é desesperador para o repórter não ter em mãos uma bem organizada lista de telefones para contatos urgentes com as fontes. Muitas vezes perde-se a chance de ver a própria matéria na manchete do dia seguinte por falta de meios para confirmar uma informação imprescindível. Jornalista iniciante que perde oportunidades por desorganização está abrindo mão de uma carreira ascendente.
            Em determinadas situações parte da entrevista exclusiva é dada em off. O repórter deve ter a habilidade de respeitar o pedido de off para preservar sua fonte. Sem boas fontes um repórter não é ninguém. Nestes casos as informações em off devem ser atribuídas a "uma fonte bem informada da empresa"..."técnicos da área"....."especialistas no assunto"...etc.
            Nas entrevistas de rotina nem sempre é possível citar o nome e a qualificação de todos que falaram (como ocorre nas pesquisas sobre preços de combustíveis ou preços de supermercados etc). A informação deve, então, ser atribuída a fontes generalizadas: "Alguns proprietários de postos de gasolina afirmam que o consumo de gasolina caiu cerca de 40% na cidade depois do último aumento autorizado pelo governo". Ou: "Segundo testemunhas, o motorista do ônibus argentino foi o culpado pelo acidente que matou 38 turistas, ontem, numa curva da BR 101, em Santa Catarina, perto de Joinville".
            Chama-se "caracterizada" a entrevista em que a fonte aparece claramente identificada: "Quero esclarecer que não convidei mais ninguém para o cargo", garantiu ontem o presidente Fernando Henrique Cardoso, desmentindo declarações de que teria sondado outros nomes, além do Procurador-Geral da República, Geraldo Quintão, para o cargo de Ministro da Defesa, em substituição a Élcio Álvares.
            Nas entrevistas de rua, tipo "povo-fala", "pesquisa" etc é conveniente qualificar o entrevistado citando, além do nome, idade, profissão e região onde mora. De acordo com o assunto da entrevista, esses dados são fundamentais. É relevante, numa entrevista sobre sexo antes do casamento, por exemplo, ou sobre topless em Copacabana, se o entrevistado tem 17 ou 77 anos. Do mesmo modo é determinante se o elogio dirigido à política do governo veio do deputado do PT ou do PFL.
            Às vezes é necessário dar mais detalhes sobre o entrevistado. Se a entrevista de rua é sobre recursos que os taxistas usam para poupar combustível e se isto, de algum modo, beneficia o usuário, é bom citar também  a placa do carro  que o entrevistado dirige e seu ponto de parada, pois o bom jornalismo deve ter sempre o sentido de serviço ao leitor.
           

7. COMO FAZER

            O manual da Folha de São Paulo diz que o segredo de uma boa entrevista está na elaboração de um bom roteiro:
            - Levante sempre o máximo de informações sobre  o entrevistado e o tema que ele vai tratar.Em seguida, reflita sobre o objetivo a que pretende chegar. O melhor caminho é redigir perguntas tão específicas quanto possível. Perguntas muito genéricas resultam em entrevistas tediosas.
            Os repórteres da Folha também recebem estas orientações:
            -Ao transcrever a entrevista, o repórter deve corrigir os erros de português ou problemas da linguagem coloquial quando for imprescindível para a perfeita compreensão do que foi dito. Mas não se pode trocar as palavras ou mudar o estilo da linguagem do entrevistado. Se relevantes, eventuais erros ou atos falhos do entrevistado podem ser destacados com a expressão latina "sic" entre parêntesis na frente da palavra ou frase. É recomendável preservar a ordem original das perguntas.
            E ainda:
            a) Marque a entrevista com antecedência;
            b) Informe o entrevistado sobre o tema e a duração do encontro;
            c) Grave a entrevista para poder reproduzir com absoluta fidelidade eventuais declarações curiosas, reveladoras ou bombásticas;
            d) Vista-se de modo adequado a não destoar do ambiente em que será feita a entrevista, para não inibir ou agredir o entrevistado;
             e) Faça perguntas breves, diretas, que não contenham resposta implícita;
             f) Identifique contradições, mencione pontos de vistas opostos e levante objeções sem agredir o entrevistado;
            g) Não deixe de abordar temas considerados "sensíveis" pelo entrevistado. Faça perguntas diretas e ousadas. Insista quantas vezes achar necessário se o entrevistado se recusar a responder a alguma pergunta;
            h) Registre essa recusa se for significativa;
            I) O entrevistado tem o direito de retificar ou acrescentar declarações. Se for relevante, o repórter pode registrar as duas versões (original e posterior).


8. OUTRAS RECOMENDAÇÕES

            a) Evitar perguntas fechadas, isto é, que só admitem monossílabos como resposta. ( "O Sr. é a favor ou contra a candidatura de Lula à Presidência?". Uma pergunta aberta seria: "Porque o Sr. apóia Lula para Presidente?");
            b) O repórter deve responder brevemente se o entrevistado pedir a opinião dele;
            c) Quando o entrevistado foge do assunto, o repórter deve usar a pergunta seguinte para trazê-lo de volta ao tema;
            d) Procurar ser bem-humorado no diálogo, porém sem exageros que destoem;
            e) Agir com segurança e naturalidade, mostrando que sabe o que quer;
            f) Ao ouvir uma resposta-bomba, o repórter não deve revelar entusiasmo porque essa reação pode levar o entrevistado a pedir o cancelamento da declaração, receoso das conseqüências;
            g) Não se deve usar exclamações para comentar as respostas ("puxa! "..."quem diria!"..."não me diga!".)
            h) as perguntas podem ser de esclarecimento ("quantos operários foram demitidos?"), de análise ("que motivos a empresa deu para as demissões?"), de ação ("o que o sindicato pretende fazer agora?");
            I) Perguntas muito longas podem complicar a vida do repórter se o entrevistador pedir que ele repita;
            J) Não se deve misturar várias perguntas ao mesmo tempo ("qual seu nome, idade, trabalho atual e a situação do seu bairro?");
            l) Perguntas muito amplas confundem o entrevistado ("como o Sr. vê a situação da humanidade de Adão até nossos dias?");
            m) O repórter deve acompanhar com total atenção as respostas do entrevistado;
            n) O entrevistado deve ser alertado para o fim da entrevista ("agora uma última pergunta"..."para terminar"...."o Sr. gostaria de acrescentar mais alguma coisa?")
            Mário Erbolato relaciona, entre outros já vistos, os seguintes procedimentos na preparação do repórter para a entrevista:
            a) Chegue ao local da entrevista na hora combinada, se possível com alguma antecedência;
            b) Ajude o entrevistado, se necessário, a expor as suas opiniões. Conduza a entrevista;
            c) Não corte as respostas. Espere que cada uma delas termine para formular a próxima pergunta;
            d) Faça as perguntas no mesmo nível de quem responde: Às vezes trata-se de pessoa humilde que tem informações sobre determinado fato, mas se ficar amedrontada negará esclarecimentos preciosos para o jornal;
            e) Prepare o terreno para cada pergunta. As coisas mais indiscretas podem ser indagadas se o jornalista tiver o cuidado de ir-se conduzindo com habilidade.

9 -  QUEM É A ESTRELA?

            O comportamento de alguns repórteres de vídeo deixa dúvidas sobre quem deve ser a "estrela"  da entrevista. Todos sabem que a "estrela" deve ser sempre o entrevistado, "por mais conhecido e vaidoso que seja o repórter", observa Nilson Lage. Segundo ele,  espera-se  que o repórter seja discreto, como coadjuvante e, ao mesmo tempo, diretor de cena: "Entrevistados podem ser malcriados ou tentar intimidar o repórter; este não deve irritar-se nem deixar-se intimidar".
            A exemplo de outros autores, também Nilson Lage lembra que, durante a entrevista, uma das chaves é saber perguntar em cima da resposta. Outra é manter o comando da conversa impedindo que o entrevistado se desvie do tema. Em algumas situações, quando isto acontece, a melhor estratégia, conforme Lage, é apresentar nova pergunta, mudando o assunto, para retomar posteriormente ao ponto problemático. "Não se deve questionar mais do que o necessário nem insistir em linhas de questionamento que se constatam improdutivas", ensina.
            Há muitos casos em que a entrevista precisa ser feita por telefone. Lage observa: "O telefone é um meio muito útil para a apuração de informações, mas suprime algumas condições facilitadoras da entrevista, tais como o ambiente controlado e a presença do outro”.
            Outro modo, hoje muito usual, de se entrevistar à distäncia, é via e-mail. Aliás, com a Internet não apenas os jornalistas encontram inúmeras facilidades em seu trabalho, mas os próprios estudantes de jornalismo podem partir para contatos diretos no mercado, colocando em prática as teorias aqui aprendidas sobre a arte de entrevistar, por exemplo. No caso de conversas on-line, tipo ICQ, o resultado depende, em parte, da destreza do entrevistado na digitação. Muitas pessoas perdem a espontaneidade quando escrevem. E se digitam lentamente, as respostas "tenderão a ser formais, como as que se obtém em um questionário escrito"( Lage 2001).